Lei Ordinária nº 7.199, de 19 de abril de 2024
BIOGRAFIA
Dr. Jacob Kirjner
Médico clínico, cirurgião, filantropo e anjo da guarda.
Jacob Kirjner nasceu em 07/12/1927 de pais especiais. Vindos da Europa, seus pais, Israel e Rachel, casaram-se e, corajosamente, se instalaram nas bandas de Santa Rosa, Distrito de Boa Vista do Buricá, hoje município.
Naquela época, entre 1920 e 1927, Buricá era um “fim de mundo”: sem televisão, sem telefone, tanto que a maior distração era ter uma família grande, tendo o Jacob quatro irmãos: a Déia, o Zeca, o Moacyr e a pequena Dalila, que foi o motivo de mudança para Porto Alegre, Capital do Rio Grande do Sul. Dalila tinha quase três meses de vida quando foi acometida por uma diarreia fatal e veio a falecer. Não é de se surpreender que o irmão Jacob tenha optado pela Medicina - que foi sua grande paixão -, pois a falta de recursos, principalmente de médicos no interior do Estado, era enorme.
Abalados com a morte prematura da filha pequenina, a família Kirjner veio morar em Porto Alegre, na Av. Protásio Alves. Na época, o local ainda estava coberto pela mata virgem, perto do terreno onde hoje se encontra a Churrascaria Barranco.
Guri, muitas travessuras fez Jacob acompanhado de uma plêiade de moleques tão travessos, ou mais, do que ele. Mas de uma coisa ele tinha pavor: de ver “gente morta”, tão que se por acaso existisse um velório perto de sua casa (naquele tempo era costume velar-se os mortos em casa pois não existiam capelas), quem não passava de jeito nenhum em frente à casa enlutada era o Jacob.
Como a família era grande e lutava com dificuldades, o Jacob foi estudar em escola pública, no grupo escolar Rio Branco, que ficava do outro lado da rua onde morava a família Kirjner. E foi com muito orgulho, anos mais tarde, que a diretoria do grupo homenageou Jacob e sua irmã Adélia como primeiros alunos da escola a se graduarem em curso superior, ele, na Medicina e, ela, na Odontologia.
Depois de ter concluído o primário, Jacob foi estudar o ginásio e o colegial no colégio Júlio de Castilhos que, naquele tempo, era uma escola particular. Depois de ter concluído o científico, Jacob começou a se preparar para o vestibular de Medicina, sem dúvida por ser verdadeira sua vocação para tão nobre profissão. Uma vez questionado por sua filha Sheila sobre a razão pela qual gostava de ser cirurgião, sua resposta para a garotinha do primeiro ano escolar foi: “Filha, descobri que queria ser cirurgião quando me dei conta de que operava todas as bonecas de minha irmã. Eu cortava todas elas, queria saber o que existia dentro”.
Naquele tempo, era frequente o racionamento de energia elétrica. Jacob não se aborrecia com isso. Como precursor do “ Mac Giver”, ele improvisou uma forma peculiar para estudar, aproveitando a luz de uma vela com dois espelhos dispostos em um ângulo de 90 graus e a vela acesa entre os dois. Isso multiplicava muito a luz emitida pela chama benfazeja da vela, para que ele não perdesse um minuto sequer de seu precioso tempo.
Já estudante de medicina, acordava de madrugada para ir ao mercado público abastecer de frutas e verduras o pequeno armazém onde trabalhava, com sacrifício, sua mãe, a D.Rachel. Formado em Medicina, em 1952, fez o concurso para a Brigada Militar, onde entrou como capitão. Foi capitão - médico no Regimento Bento Gonçalves, na antiga companhia de guardas. Como não bastasse um diploma de curso superior, fez na ESEF (Escola Superior de Educação Física) o curso de medicina desportiva, numa época pioneira neste tipo de estudo, isto no ano de 1955.
Desde estudante, Jacob Kirjner pertenceu ao quadro de negócios da Santa Casa de Misericórdia de Porto Alegre, tendo exercido as funções de cirurgião na chamada Enfermaria 35 de Mulheres.
No ano de 1956, conheceu sua futura esposa e eterna namorada, Rachel, tendo se casado em janeiro de 1958. Após o nascimento de sua primogênita, Jacob teve de mudar-se para o interior devido aos problemas de saúde de sua filha, tendo a família morando em diversos locais até que, finalmente, retornando ao quartel, em 1963, Jacob e família se instalaram em Montenegro, como capitão médico. Abriu seu consultório particular na Rua Ramiro Barcelos, em uma casa ao lado de onde era a antiga “telefônica de Montenegro”, residindo neste local até mais ou menos 1969.
Em 1963, também aconteceu uma das maiores enchentes na cidade de Montenegro, ocasião na qual conheceu e se tornou amigo do saudoso prefeito Hélio Alves de Oliveira. Jacob não poupou esforços para auxiliar a população montenegrina nesta grande tragédia, vacinando e atendendo, principalmente as crianças e os idosos. O Doutor Jacob tornou-se imprescindível como médico dedicado e competente.
Durante muito anos, atendeu pelo INSS na qualidade de médico perito. Além de participar ativamente no desenvolvimento da cidade, atendia também no quartel, até quando foi promovido ao cargo de chefe do departamento médico da Brigada Militar do Estado do Rio Grande do Sul. Fazia atendimentos no único hospital que então existia Montenegro, bem como, caridade pelo interior, atendendo asilos de crianças e pobres. Atendia pelo amor que tinha pelo ser humano (existem muitos depoimentos acerca deste assunto). Membro fundador do Lions Club de Canela, Jacob foi convidado a fazer parte do Lions Club de Montenegro, chegando, naquela época, ao cargo de presidente de divisão (onde desenvolveu vários projetos que ajudaram em muito o desenvolvimento da cidade de um modo geral e amplo). Também participou do movimento de escoteiros, tendo criado o clube dos lobinhos.
Como se não bastasse, Dr. Jacob, aos sábados, atendia gratuitamente o pessoal internado no asilo Pela Betânia, praticando com carinho e respeito a profissão que tanto amava. Jacob também foi o primeiro médico a trabalhar no modelo cooperativo, tendo trazido para Montenegro a Unimed, mesma cooperativa que atende milhares de pessoas em Montenegro.
Entretanto tudo que é bom, dura pouco, e, em 31/03/1977, o coração gigante do Dr. Jacob Kirjner parou de bater deixando órfãos centenas de montenegrinos que nasceram através de suas mais e outros tantos que foram salvos por elas.